Fim da Idade Média – Grandes Mudanças

Mudanças no Fim da Idade Média

No final da Idade Média, e com a progressiva centralização do poder nas mãos dos reis, surgiram monarquias de caráter nacional, que deram origem às modernas nações, governos e instituições nacionais. Esse modelo de Estado veio atender aos interesses dos reis e da burguesia em ascensão e foi construído com a soma de diversos fatores. Com o declínio da servidão e a transformação das propriedades feudais em terras arrendadas ou cultivadas por trabalhadores livres, os camponeses saíram do controle dos senhores feudais. As revoltas camponesas do final da Idade Média assustaram a todos  reis, burgueses, nobres e clérigos  por sua violência, e fez-se necessário um poder central forte, que controlasse os camponeses dispersos e evitasse novas rebeliões dessa classe.

Com o desenvolvimento do comércio, no período final da Idade Média, surgiu uma nova classe – a burguesia, interessada na centralização do poder, pois o particularismo político e jurídico do feudalismo dificultava o desenvolvimento do comércio. Os comerciantes iam, de feudo em feudo, oferecendo suas mercadorias. Para passar pelos feudos ou usar uma ponte, pagavam taxas. Muitas vezes, eram atacados pelos exércitos saqueadores dos senhores feudais, que também se achavam no direito de confiscar as mercadorias das carroças que quebravam em seus domínios. Para dificultar ainda mais as transações comerciais, as moedas e as leis variavam de um feudo para outro. Os mercadores necessitavam de moedas, impostos e leis nacionais que os protegessem e facilitassem o comércio.

Inicialmente, as cidades ficavam dentro dos feudos, submetidas à juridição dos senhores feudais, que cobravam taxas exorbitantes e impunham regras para a comercialização de produtos. Por isso, os mercadores e os artesãos entravam em constantes conflitos com a nobreza. Às vezes, os conflitos eram resolvidos pacificamente, com a compra da liberdade das cidades por meio de uma carta de franquia. Outras vezes, quando a venda não interessava aos nobres, os burgueses e artesãos lutavam pela independência das cidades, contando, frequentemente, com o apoio real.

A burguesia ainda não tinha força política para assumir a tarefa de centralização do poder. Era uma classe numérica e politicamente fraca, que possuía o capital e a consciência de que os particularismos feudais eram contrários a seus interesses econômicos. Mas, sem lugar na hierarquia feudal, essa classe precisava encontrar uma força significativa, disposta a lutar contra a nobreza e centralizar o poder. Os reis, por sua vez, também estavam interessados em fortalecer seu poder, o que era impossível dentro do complexo sistema de vassalagem do feudalismo. Eles possuíam exércitos de nobres vassalos, mas é claro que não podiam contar com essa ajuda para combater seus próprios interesses e privilégios. As únicas rendas dos soberanos provinham dos domínios reais e eram insuficientes para formar exércitos permanentes, capazes de lutar contra a nobreza.

Na luta pela independência das cidades, houve uma aproximação entre os reis e a burguesia. Os soberanos tinham interesses na independência das cidades, pois poderiam cobrar as taxas e os impostos cobrados pelos senhores feudais, aumentando assim seus rendimentos. Essa aproximação evoluiu para uma aliança entre os reis e a burguesia, na qual os burgueses forneciam aos reis os capitais de que necessitavam e estes lhes retribuam com proteção e facilidades comerciais. Além disso, os monarcas permitiam que os burgueses participassem dos conselhos, comprassem títulos de nobreza e desenvolvessem o comércio e as manufaturas.

Grandes Reformas

Os reis e príncipes foram os grandes mecenas do Renascimento. Muitos intelectuais renascentistas elaboraram teorias para justificar a centralização do poder nas mãos dos reis. Outros incentivavam o espírito de nacionalidade e criticavam as teorias medievais que defendiam a superioridade do poder espiritual sobre o poder temporal. Durante toda a Idade Média, a Igreja ambicionava um poder universal sobre toda a cristandade, subordinando príncipes e reis ao poder do papa. Os intelectuais renascentistas argumentavam que o poder do rei sobre um determinado país estendia-se inclusive sobre os religiosos e seus bens. A Igreja e o papa deveriam cuidar apenas dos assuntos espirituais. As teorias renascentistas, difundidas pela imprensa, criaram as mentalidades necessárias para a centralização do poder real.

Com a Reforma Protestante, surgiram as igrejas nacionais, chamadas protestantes, em diversos países europeus. Muitos dos reformadores, como Lutero, pregavam que a Igreja deveria estar subordinada às autoridades nacionais. A Reforma enfraqueceu a Igreja Católica e incentivou o sentimento contra sua pretensão universalista. Com isso, contribuiu para anular a autoridade dos papas e bispos sobre os governantes. O enfraquecimento da Igreja fez com que ela se colocasse sob a autoridade dos reis. Em países como a Inglaterra, por exemplo, os reis estenderam também sua autoridade sobre o poder espiritual, tornando-se chefes da Igreja. O desenvolvimento da idéia de nação chocava-se com o universalismo do papa. Os papas, que eram príncipes italianos, queriam dirigir toda a Europa, ao mesmo tempo que se preocupavam com a política de seu território. Seu domínio, muitas vezes, estava em guerra contra outros países europeus. Numa época de desenvolvimento do sentimento nacional na Europa, os mais ativos habitantes dos países europeus, entre eles a burguesia, tendiam a ver as intromissões dos papas como a interferência de um governante estrangeiro.

A Guerra dos Cem Anos (1334-1453) foi uma luta travada entre Inglaterra e França, cujas origens encontram-se na disputa entre os dois países pela região de Flandres e na pretensão do rei inglês Eduardo III ao trono da França. Essa guerra contribuiu particularmente para o fortalecimento do poder real francês por vários motivos: os feudos do rei inglês, na França, passaram para o domínio da coroa francesa; o longo período de guerras enfraqueceu a nobreza francesa, porque, à medida que os nobres morriam, seus feudos iam passando para o domínio do rei; e, o mais importante, a guerra desenvolveu o sentimento nacional. Com a França em perigo, uma camponesa mística, Joana D’Arc, organizou um exército completamente diferente dos exércitos feudais. Guerra era assunto para nobres e homens. Seu exército era liderado por uma mulher camponesa.

Os exércitos feudais lutavam por seu senhor e seu feudo. O de Joana D’Arc era um exército nacional, que lutava pela França e por seu rei. Os franceses, agora, sentiam-se integrantes de um país. A idéia de nação estava lançada. Foi uma guerra civil, ocorrida entre 1453 e 1485, que eclodiu na Inglaterra, entre a Dinastia Lancaster (simbolizada por uma rosa vermelha) e a Dinastia York (simbolizada por uma rosa branca). Os Lancaster, então no poder, representavam os interesses da velha nobreza feudal; os York, a nova nobreza inglesa, os cavaleiros, que, aliados à burguesia, aplicavam seus capitais nas atividades mercantis, visando o lucro. Nessa longa guerra civil, os nobres, que eram os militares, foram morrendo e os feudos sem herdeiros eram incorporados ao patrimônio real. A nobreza, dividida, autodestruiu-se como classe dominante, favorecendo o fortalecimento do poder real. Quando a guerra terminou, Henrique Tudor, descendente dos Lancaster, desposou Elizabeth de York, unindo, sob sua direção, as duas dinastias e dando início ao absolutismo inglês.

Atualizado em: 04/07/2023 na categoria: História Geral